Assumir
o tema “aquecimento global” como “controverso” é a menor das dificuldades em se
abordar este assunto. Num primeiro momento parece estar em jogo o equilíbrio
ambiental (apenas natural) do planeta e, de um lado, um grupo de cientistas diz
que o papel do homem tem sido fundamental e devastador, de outro, mais um grupo
de cientistas afirma que tudo não passa de um processo natural. O problema é
que esta discussão não é neutra e, além disso, o que está em jogo não é apenas
o equilíbrio ambiental. Neste contexto estão inseridos milhões de pessoas que
passam fome e nem mesmo água tem para beber, populações de animais e plantas
que vão sendo extintas, a necessidade do capitalismo de se manter firme através
da apropriação dos recursos naturais, enfim, uma abordagem meramente ambiental torna-se
muito simplista, é preciso considerar também os vieses social e econômico para
ter um mínimo de profundidade.
Um dos
mais ferrenhos debates contemporâneos refere-se ao aquecimento global e sua
relação ou não com as ações antrópicas. Há o grupo dos catastróficos,
apocalípticos e o grupo dos céticos. Através de dados estatísticos os
cientistas classificados como “catastróficos” procuram alertar a humanidade
quanto à urgência de providencias que barrem o aquecimento global causado pelo
homem. Caso contrário, logo a humanidade sofrerá sérias mazelas e pode até
mesmo ser extinta. Os referidos dados provam que a atmosfera vem sofrendo um
acréscimo de temperatura por conta da ação poluidora do homem.
Por
meio de dados também científicos e estatísticos, o grupo dos céticos desmente
aos argumentos de seus “rivais” alarmistas. Neste sentido, afirmam que o
aquecimento global nada mais é que um fenômeno natural e cíclico da atmosfera,
em conjunto, é claro, com os demais sistemas terrestres; não se pode
desconsiderar a importante atuação das massas oceânicas.
É
indispensável aqui ressaltar a facilidade com que se pode manipular os dados
estatísticos, conduzindo qualquer pesquisa da forma que se apresente mais
conveniente. Tal afirmação pode ser aplicada às duas correntes teóricas, no
entanto, isso não significa que todos os cientistas envolvidos neste debate
hajam desta maneira e é importante haver esta ressalva.
Apoiando
a postura dos catastróficos está o documentário de Al Gore, utilizando musicas
tocantes e imagens da natureza em conjunto com gráficos que comprovam a ação
destruidora do homem. Por outro lado, surgiu o documentário que se contrapõe ao
primeiro, chamado de “A farsa do aquecimento global”, apresentando também a
fala de cientistas e uma série de dados e argumentos que comprovam a
naturalidade do aquecimento global.
Aos
bilhões de pessoas que não são cientistas e não compreendem as estatísticas
complexas, gráficos mirabolantes, enfim, toda a linguagem científica que parece
ser feita justamente para isso, para não ser compreendida pelas massas, resta
se alinhar a uma ou outra corrente.
O
problema é que infelizmente, quase sempre este alinhamento torna a sociedade
apenas “massa de manobra”. As pesquisas geram renda, vendem livros, filmes e
documentários. Cada discurso com seus interesses legitima uma série de ações
voltadas a diferentes estilos de vida, sempre pensando na compra de novos
produtos que sejam mais sustentáveis, viagens ecológicas, créditos de carbono,
enfim, vários são os artifícios e, cada vez menor parece a lucidez da sociedade
em geral, ludibriada com tantas informações.
Alinhar-se
aos catastrofistas pode significar apenas aceitar uma série de hábitos de novos
consumos apenas para criar mercados novos e manter o capitalismo vivo. Por
outro lado, compartilhar do ponto de vista dos céticos, desonerando o homem de
qualquer culpa, pode levar o mundo à destruição.
Fatalmente
a maioria das pessoas acredita em maior ou menor grau em alguma das correntes.
Ambas as linhas teóricas tem problemas, falhas e mesmo induções de dados. À
população parece que resta se comportar como os animais da fazenda de Orwell:
apenas trabalhar bastante e seguir às regras dos porcos (tanto alarmistas quanto
céticos).
Enquanto
o debate se acirra e as “paixões científicas” são defendidas o capitalismo
avança em direção aos recursos naturais explorando combustíveis fósseis e
agora, abraçando a força motriz do momento, os agrocombustíveis. Levantou-se a
bandeira de que os combustíveis provenientes de cana e milho, por exemplo, são
menos nocivos à atmosfera e, se comparados ao petróleo, ainda são
produtivamente sustentáveis.
Surge
então o problema da segurança alimentar frente à “necessidade” de se produzir
milhões de litros de combustível. As pessoas deixam de comer porque não tem
dinheiro suficiente para pagar por alimentos cada vez mais caros e, estes
apresentam preços cada vez mais elevados porque sua produção se vê diminuída
pela expansão das monoculturas voltadas à agroindústria.
Constata-se
também uma drástica redução da biodiversidade do planeta, primeiro em função da
destruição ambiental criada pelo progresso tecnológico e, segundo, pela
homogeneização criada pelo homem em relação às culturas que são mais valorizadas.
Por exemplo, se tornou-se lucrativo plantar cana para fazer combustível,
teremos apenas cana. O mesmo se aplica à soja, ao café, enfim, a qualquer
cultura que se mostre mais lucrativa no momento e isso infelizmente já é uma
tradição em nosso país desde a época da colônia portuguesa.
Se o
planeta não está sendo destruído estamos apenas sendo conduzidos a consumir
novos produtos, influenciados por “necessidades” de sustentabilidade criadas
por um grupo dominante que visa ao lucro. Se por outro lado tudo for verdade,
nosso planeta está sendo destruído pela ganancia capitalista criada pelo homem,
no entanto, apenas uma pequena parcela dos bilhões de habitantes do planeta se
beneficia com isso, deixando à esmagadora maioria os prejuízos e a morte por
inanição, sede e mesmo contaminação. De que lado devemos ficar? Quando
deixaremos de ser “massa de manobra”? Ainda precisamos nos informar muito.
Autores: Grupo Professores em Ação.
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