terça-feira, 11 de setembro de 2012

Reflexões sobre aquecimento global



Assumir o tema “aquecimento global” como “controverso” é a menor das dificuldades em se abordar este assunto. Num primeiro momento parece estar em jogo o equilíbrio ambiental (apenas natural) do planeta e, de um lado, um grupo de cientistas diz que o papel do homem tem sido fundamental e devastador, de outro, mais um grupo de cientistas afirma que tudo não passa de um processo natural. O problema é que esta discussão não é neutra e, além disso, o que está em jogo não é apenas o equilíbrio ambiental. Neste contexto estão inseridos milhões de pessoas que passam fome e nem mesmo água tem para beber, populações de animais e plantas que vão sendo extintas, a necessidade do capitalismo de se manter firme através da apropriação dos recursos naturais, enfim, uma abordagem meramente ambiental torna-se muito simplista, é preciso considerar também os vieses social e econômico para ter um mínimo de profundidade.
Um dos mais ferrenhos debates contemporâneos refere-se ao aquecimento global e sua relação ou não com as ações antrópicas. Há o grupo dos catastróficos, apocalípticos e o grupo dos céticos. Através de dados estatísticos os cientistas classificados como “catastróficos” procuram alertar a humanidade quanto à urgência de providencias que barrem o aquecimento global causado pelo homem. Caso contrário, logo a humanidade sofrerá sérias mazelas e pode até mesmo ser extinta. Os referidos dados provam que a atmosfera vem sofrendo um acréscimo de temperatura por conta da ação poluidora do homem.
Por meio de dados também científicos e estatísticos, o grupo dos céticos desmente aos argumentos de seus “rivais” alarmistas. Neste sentido, afirmam que o aquecimento global nada mais é que um fenômeno natural e cíclico da atmosfera, em conjunto, é claro, com os demais sistemas terrestres; não se pode desconsiderar a importante atuação das massas oceânicas.
É indispensável aqui ressaltar a facilidade com que se pode manipular os dados estatísticos, conduzindo qualquer pesquisa da forma que se apresente mais conveniente. Tal afirmação pode ser aplicada às duas correntes teóricas, no entanto, isso não significa que todos os cientistas envolvidos neste debate hajam desta maneira e é importante haver esta ressalva.
Apoiando a postura dos catastróficos está o documentário de Al Gore, utilizando musicas tocantes e imagens da natureza em conjunto com gráficos que comprovam a ação destruidora do homem. Por outro lado, surgiu o documentário que se contrapõe ao primeiro, chamado de “A farsa do aquecimento global”, apresentando também a fala de cientistas e uma série de dados e argumentos que comprovam a naturalidade do aquecimento global.
Aos bilhões de pessoas que não são cientistas e não compreendem as estatísticas complexas, gráficos mirabolantes, enfim, toda a linguagem científica que parece ser feita justamente para isso, para não ser compreendida pelas massas, resta se alinhar a uma ou outra corrente.
O problema é que infelizmente, quase sempre este alinhamento torna a sociedade apenas “massa de manobra”. As pesquisas geram renda, vendem livros, filmes e documentários. Cada discurso com seus interesses legitima uma série de ações voltadas a diferentes estilos de vida, sempre pensando na compra de novos produtos que sejam mais sustentáveis, viagens ecológicas, créditos de carbono, enfim, vários são os artifícios e, cada vez menor parece a lucidez da sociedade em geral, ludibriada com tantas informações.
Alinhar-se aos catastrofistas pode significar apenas aceitar uma série de hábitos de novos consumos apenas para criar mercados novos e manter o capitalismo vivo. Por outro lado, compartilhar do ponto de vista dos céticos, desonerando o homem de qualquer culpa, pode levar o mundo à destruição. 
Fatalmente a maioria das pessoas acredita em maior ou menor grau em alguma das correntes. Ambas as linhas teóricas tem problemas, falhas e mesmo induções de dados. À população parece que resta se comportar como os animais da fazenda de Orwell: apenas trabalhar bastante e seguir às regras dos porcos (tanto alarmistas quanto céticos).
Enquanto o debate se acirra e as “paixões científicas” são defendidas o capitalismo avança em direção aos recursos naturais explorando combustíveis fósseis e agora, abraçando a força motriz do momento, os agrocombustíveis. Levantou-se a bandeira de que os combustíveis provenientes de cana e milho, por exemplo, são menos nocivos à atmosfera e, se comparados ao petróleo, ainda são produtivamente sustentáveis.
Surge então o problema da segurança alimentar frente à “necessidade” de se produzir milhões de litros de combustível. As pessoas deixam de comer porque não tem dinheiro suficiente para pagar por alimentos cada vez mais caros e, estes apresentam preços cada vez mais elevados porque sua produção se vê diminuída pela expansão das monoculturas voltadas à agroindústria.
Constata-se também uma drástica redução da biodiversidade do planeta, primeiro em função da destruição ambiental criada pelo progresso tecnológico e, segundo, pela homogeneização criada pelo homem em relação às culturas que são mais valorizadas. Por exemplo, se tornou-se lucrativo plantar cana para fazer combustível, teremos apenas cana. O mesmo se aplica à soja, ao café, enfim, a qualquer cultura que se mostre mais lucrativa no momento e isso infelizmente já é uma tradição em nosso país desde a época da colônia portuguesa.
Se o planeta não está sendo destruído estamos apenas sendo conduzidos a consumir novos produtos, influenciados por “necessidades” de sustentabilidade criadas por um grupo dominante que visa ao lucro. Se por outro lado tudo for verdade, nosso planeta está sendo destruído pela ganancia capitalista criada pelo homem, no entanto, apenas uma pequena parcela dos bilhões de habitantes do planeta se beneficia com isso, deixando à esmagadora maioria os prejuízos e a morte por inanição, sede e mesmo contaminação. De que lado devemos ficar? Quando deixaremos de ser “massa de manobra”? Ainda precisamos nos informar muito.

Autores: Grupo Professores em Ação.